25/06/2009

NUNCA OLHES PARA TRÁS...

Só olhou para trás uma vez… E foi quanto bastou para que a sua vida mudasse. Josi estava perdida naquele lugar. Tentou ir em frente, para onde parecia haver luz. Ouviu um barulho atrás de si. Tentou ignorar, ir em frente. Voltou a ouvi-lo. Passos lentos, pesados. Ignorou o medo, apesar deste a querer fazer parar. Continuou a andar. Continuou a ouvir os passos. Sentindo medo e curiosidade, olhou para trás. Não devia ter olhado para trás…


Chegou a casa. Fechou a porta, posou as chaves na mesa da sala. Foi a casa de banho. Olhou-se ao espelho. Não se reconhecia, observava uma estranha. Não era ela, era a sua sombra, a sua miragem, era o seu passado que observava. Sentiu-se nauseabunda. Virou-se para a sanita e vomitou até não poder mais. No final deixou-se estar deitada naquele chão frio. Não tinha coragem nem forças para se levantar. Não queria voltar a acordar. Não queria se lembrar….

Horas mais tarde acordou. Estava suada, tinha sonhado muito, sonhado com o que não queria lembrar. Sentia-se suja. Foi tomar banho. A água começou por correr gelada mas ela não notou, era igual. Já não era ela, era tudo um sonho, tinha sido um pesadelo. Passou uma hora no banho. Varias vezes se lavou, nunca se sentindo limpa. Quando acabou dirigiu-se ao quarto, nua. Deitou- se, cobrindo-se com as cobertas até á cabeça. Só queria desaparecer. Queria que o mundo dos sonhos a consumi-se para sempre. Mas não conseguia sequer fechar os olhos. Como que senti-se que estava em perigo. Fintava as mantas como se olha-se para o vento. Nada via, mas tudo sentia. A vida era muda naquele momento. Calou o choro e deixou-se dormir.

Ouviu o telemóvel tocar. Parecia que o som fugia aos seus sentidos. A pouco e pouco abriu os olhos. Tinha de se levantar. Tinha de esquecer… Seguiu o som do telemóvel. Já não se recordava de onde o tinha deixado. Foi procurar no quarto, na sala… Até que foi á casa de banho. A mala estava no chão, a carteira, tudo a sair… O telemóvel estava ali, naquele chão frio. Veio-lhe tudo á memória. Sentiu-se mal novamente, sentiu-se suja. E o telemóvel que não parava de tocar… Agarrou nele e, num acesso de raiva, mandou-o com toda a força contra a parede. Finalmente o silêncio. Mas o silêncio foi pior que o toque do telemóvel. Tinha de desaparecer, tinha de sair. Mas para onde ir? E se… Não, não queria passar por aquilo outra vez. Não. Socorro! Era essa a palavra que lhe passava pela mente. Maldita a hora, maldito o destino…

Bateram á porta. ‘Quem é?’, perguntou, hesitante. A sua voz tremia, o seu coração gritava numa dor indistinta. ‘Sou eu, a Siell. Abre a porta, vá.’ ‘Estás sozinha?’ ‘ Claro, mas que pens… Abre a porta, Josi! Que se passa? Porque não foste trabalhar?’ ‘Espera, já vou.’ , disse Josi, lembrando-se subitamente que continuava nua. Foi ao quarto e tirou o primeiro pijama que encontrou. Era horrivel, nem se lembrava que ainda o tinha. Mas issso pouco importava agora, nada fazia diferença. Foi á porta, não sem antes perguntar se Siell ainda lá estava. Só quando ouviu a sua voz zangada dar a confirmação abriu a porta. Siell olhou para ela. ‘Está tudo bem? Que se passa? Porque não me querias me deixar entrar?’ Será que ela tinha notado, será que ela tinha adivinhado o que se passava com ela? ‘Hello?! Josi, estás cá?’ ‘Sim, diz?’ Apercebeu-se que tinha ficado calada tempo demais. Não, ela não sabia. Não podia saber.

Siell falava e parecia que Josi não a ouvia. Era como se não estivesse lá. Apenas aquelas imagens passavam na sua cabeça. Sentia-se morrer por dentro… Siell continuava a falar. Ela acenava simplesmente com a cabeça, dando a entender que a estaria a escutar. Com alguma dificuldade a conseguiu convencer de que nada de mal se passava. Apenas se sentia um pouco doente. Apenas isso. Siell acreditou pois tudo em Josi indicava isso. Apesar desta fazer um esforço enorme para que nada nela aparentasse estar mal. Mas não conseguia. Era difícil para ela. Tentou educadamente fazer com que Siell se fosse embora. Mas ela não ia. Será que Siell não percebia que tudo o que Josi queria era ficar sózinha? Mas Siell não desistia. Foi fazer-lhe uma canja de galinha. Como se isso lhe curasse a dor que lhe ia na alma. Ou aquela dor que sentia no corpo e que não desaparecia, aquela sensação eterna de sujidade… ‘Pronto, aqui está. Come, está optima. Eu vou comer também.’ ‘Obrigada’, disse Josi. Não sentia fome alguma mas não se ia negar à boa vontade da amiga. Ela estava a preocupar-se tanto com ela… Não devia ser mal educada para com ela. Comeu uma tijela, depois outra. Siell sorriu, pois pensou que Josi se sentia melhor. Falaram um pouco sobre tudo e sobre nada. Até que Josi exclamou, espreguiçando-se: ‘Estou com um pouco de sono…’ Siell acreditou e rapidamente se dispôs a ir embora. Desejou as melhoras a Josi e dise que mais tarde lhe ligaria. Assim que Siell bateu com a porta Josi aguardou. Esperou 5 minutos. Nada. Então levantou-se e dirigiu-se a casa de banho. Lá vomitou tudo o que tinha comido. Até o seu estomago se sentia sujo. Tinha de tomar banho. Tinha de lavar a roupa. As vezes que fossem necessárias. Até se sentir limpa.

see you later

Aquilo que eles não sabem é que á noite tudo se torna mais claro para nós… embora de dia não percamos os nossos sentidos. Simplesmente a noite faz mais sentido, talvez porque por muitos séculos termos vagueado na noite, escondendomo-nos de quem nos julgava o puro mal. E, na verdade, não estavam longe da verdade.


No rasto do sangue


Tudo o que fiz até agora foi manter-me imperceptivel aos olhos dos humanos, não deixar que estes me pudessem comprender ou sequer conhecer. É melhor assim. Eu sei o que posso fazer, do que sou capaz. Mais vale que se afastem de mim. Assim não me sentirei irrestivelmente atraido pelas veias que lhes pulsam o sangue tão vibradamente… Quando eu não os quero caçar, não quero ser assim, nunca. Quero ser normal, se me é possivel ser nesse verdadeiro sentido. Por isso amo a noite. Ninguem me vê. Ninguem quer olhar a escuridão e ver o seu maior pesadelo…